Resposta da Demanda: mas qual é a pergunta? 

Em um ambiente de informação elétrico… muitas pessoas sabem muito um sobre o outro. Nosso novo ambiente obriga o comprometimento e a participação. Nós nos tornamos irrevogavelmente envolvidos, e responsáveis, um pelo outro.”

Marshall McLuhan and Quentin Fiore

Desde 1879, quando a lâmpada elétrica foi inventada, o consumo de energia elétrica tem apresentado crescimento progressivo, ou pela conexão de mais e mais residências e empresas à rede, ou pelo crescimento do consumo nas unidades existentes. Particularmente, o barateamento da energia elétrica se deu com ganhos de escala promovido pelos sistemas de corrente alternada desenvolvidos por Nicholas Tesla e popularizados a partir de iniciativas como as de Samuel Insull na cidade de Chicago, por volta de 1894 e 18951

Figura 1 – Samuel Insull em 1920. Ele viveu de 1859 a 1938 e criou um verdadeiro império com os ganhos de escala promovidos pela Corrente Alternada e com o desenvolvimento do conceito de Monopólio Natural para o Setor Elétrico. 

No Brasil, devido ao entusiasmo tecnológico de Dom Pedro II, a eletricidade iniciou sua jornada na mesma época, com a inauguração da iluminação pública elétrica da cidade de Campos, no estado do Rio de Janeiro, ainda em 18832

Figura 2 – A cidade de Campos, no estado do Rio de Janeiro, foi a primeira da  
América Latina a ter luz elétrica. 

Desde esses primórdios, a relação entre consumo e produção de energia elétrica seguiu uma lógica bem definida: 

  • Residências, fábricas, lojas, shopping centers etc. vão surgindo, vão crescendo e vão consumindo energia de acordo com as suas necessidades. 
  • Usinas, linhas de transmissão e sistemas de distribuição vão sendo construídos para atender ao consumo. 

Ou seja, sempre houve uma lógica da oferta estar preparada para o consumo, seja lá qual for… E o consumo – para a grande maioria dos clientes – sempre foi cobrado pelo volume de energia consumida: o medidor de cada estabelecimento mede quantos quilowatt-horas (kWh) foram consumidos, multiplica por uma tarifa em R$ por quilowatt-hora (R$/kWh) e o resultado é o valor da conta de energia, em R$, a ser pago.  

O resultado dessa estrutura de tarifas é que a maior parte dos consumidores passou a apresentar hábitos ruins de consumo, concentrando o uso de aparelhos elétricos ao longo da tarde e início da noite.  

Conforme pode ser observado na Figura 3, no dia 2 de agosto de 2021, o consumo de energia do sistema brasileiro foi, na média, de 65.250 MWm3. No horário de pico, no fim da tarde, o consumo foi de 78.040 MWm, e durante a madrugada, o consumo foi 52.602MWm. Uma variação, dentro do dia, de 25.438 MWm, que corresponde a quase 40% do consumo médio! 

Mas porque a concentração de consumo em algumas horas do dia é ruim?  

Figura 3 – Consumo de energia do Sistema Interligado Nacional no dia 2 de agosto de 2021. 

A concentração de consumo em algumas horas do dia é ruim porque todo o sistema elétrico, incluindo as usinas, as linhas de transmissão, os transformadores e os cabos de energia que chegam até às nossas casas precisam ser dimensionados para suportar o pico de consumo, demandando altos investimentos que são cobrados em nossas contas de luz. 

Nos períodos fora de pico, todos esses equipamentos ficam ociosos…  

Seria como ter uma família de 4 pessoas, morar no interior, e construir uma casa com 10 quartos e 5 banheiros porque na época das festas de fim de ano os parentes que moram na capital vêm fazer uma visita de 10 dias (veja a foto da chegada dos parentes – todos felizes – abaixo!). Na maior parte do tempo, ninguém usaria os quartos e os banheiros, mas você pagou para construí-los e ainda tem que pagar pela manutenção…  

Figura 4 – Família que mora na capital e usa os quartos por 10 dias no fim do ano. 

Bom… mas voltando aos consumidores de energia elétrica, as pessoas são livres para utilizar os seus equipamentos a hora que quiserem. Por que deveríamos incentivar hábitos diferentes dos atuais?  

Simplesmente porque se reduzirmos os picos de consumo, aproximando-os do consumo médio, os investimentos nas usinas e nas redes elétricas também poderão ser reduzidos, e no fim a nossa conta de energia também vai se reduzir.  

Criam-se assim benefícios para todos: bons hábitos de consumos levam a menores investimentos nos sistemas elétricos, que levam a contas de luz menores.  

E mais, as pessoas passam a poder participar de forma colaborativa para promover eficiência no sistema elétrico e contribuir para o meio ambiente.  

Por exemplo, se em algum dia as usinas fósseis – poluentes e caras – estiverem sendo acionadas para atender aos picos de consumo, os consumidores podem ser comunicados e conscientemente reduzir os seus consumos para que elas sejam desligadas. A conta de luz fica menor e o meio ambiente agradece! 

Em casos extremos, como a situação atual em que os reservatórios das hidroelétricas se encontram com volumes muito baixos, a necessidade pode ser inclusive de reduzir o consumo para que não ocorram reduções compulsórias – cortes de carga ou apagões – devido à incapacidade das usinas existentes atenderem aos picos. 

Por que não incentivamos todos os consumidores a terem bons hábitos de consumo? 

Para o consumidor mudar seus hábitos, ele precisa primeiro ser comunicado de forma humana – sem os jargões do setor que ninguém entende – sobre o racional dos picos de consumo e a necessidade de reduzi-los.  

A Volt Robotics acredita que a visita da família no fim do ano ajude a propagar o conceito de pico de consumo e sabemos que existem muitas formas de reforçar este conceito de diluição do uso dos recursos no tempo. Basta ver a lotação dos trens e metrôs em algumas horas do dia, o trânsito no início e no fim da tarde nas grandes metrópoles, alguns restaurantes que ficam cheios às 13 horas, mas estão vazios ao meio-dia etc.  

A mudança de hábito envolve ainda incentivos aos bons comportamentos. Para poder compensar os consumidores é necessário saber quem respondeu à necessidade sistêmica, reduzindo o consumo nos horários de pico.  

Para que este monitoramento seja possível, é imprescindível que consigamos medir o consumo de energia elétrica hora a hora, e que o medidor se comunique com a empresa de energia para fornecer as informações automaticamente. São os chamados medidores inteligentes!  E neste tema o Brasil está muito muito muito atrasado em relação ao mundo desenvolvido… 

Na Ásia há mais de 700 milhões de medidores inteligentes instalados; na Europa, mais de 120 milhões; no Estados Unidos, mais de 100 milhões! A maioria dos países tem o objetivo de ter ao menos 80% dos consumidores atendidos com medidores inteligentes a partir de 2021, buscando desenvolver suas indústrias de medidores, além de poderem entender melhor os picos de consumo, desenvolver tarifas que promovam eficiência e incentivar a colaboração para os benefícios sistêmicos. 

Vamos ver como alguns países têm incentivado a participação dos consumidores na redução dos picos de consumo… Quer viajar? 

Nossa primeira parada: Europa 

Na Europa os consumidores são peça central na estrutura do setor elétrico, possuindo liberdade total para contratar seus fornecedores de energia elétrica. Além disso, com forte digitalização, mais de 80% dos lares com medidores inteligentes e alta disponibilidade dos meios de comunicação, é possível informar aos consumidores o valor da energia a cada momento, possibilitando uma gestão ativa e em tempo real de seus consumos.  

E, nesse contexto, surgem os programas de Resposta da Demanda. 

Se trata de uma oportunidade única para que todos os consumidores, sejam do segmento industrial, comercial e mesmo residencial, atuem ativamente no setor, reduzindo ou mudando seu padrão de consumo durante períodos de preços elevados, contribuindo para diminuição do despacho de usinas termoelétricas – caras e poluentes – e auxiliando na manutenção do equilíbrio entre oferta e demanda de energia. 

E empresas são criadas justamente para facilitar a interação entre as pessoas e o setor elétrico. Uma dessas empresas, a Flexitricity, possui atuação relevante nesse mercado. Conforme a figura abaixo, se trata do primeiro agregador de carga no Reino Unido com capacidade de mais de 500 MW de equipamentos totalmente flexíveis, com foco em consumidores dos segmentos industrial e comercial.  

A Flexitricity recebe os comunicados de redução de carga do Operador Nacional, informa aos seus clientes e, remotamente, faz a gestão de seus equipamentos. 

Figura 5 – Flexitricity – primeiro agregador do Reino Unido. 

Voando para a França, uma empresa de destaque chama-se Voltalis. Se trata de um agregador de carga, porém com foco em consumidores menores, como pequenos comércios e residências.  

Através de sensores inteligentes, a Voltalis viabiliza a gestão remota de diversos equipamentos, reduzindo a conta de energia de seus clientes, conforme o vídeo abaixo. 

É interessante observar que, em linhas gerais, os agregadores de carga na Europa se posicionam como empresas ambientalmente engajadas, uma vez englobam a visão que, ao reduzir o consumo em horários de pico, seus clientes estão diminuindo a geração de usinas movidas a combustíveis fósseis e, por isso, mitigando a emissão de CO2.  

São empresas totalmente alinhadas ao acordo verde europeu e com a meta de tornar a Europa o primeiro continente com neutralidade climática até 2050. 

Figura 7 – Ursula Von der Leyen reafirmando o compromisso da União Europeia atingir a neutralidade climática até 2050.   

Realidade semelhante também é observada nos Estados Unidos – nossa última parada – em que programas de resposta da demanda são uma realidade para todos os consumidores. Uma das empresas oferecem esse serviço chama-se OhmConnect. 

A OhmConnect pode realizar a gestão remota dos equipamentos de uma residência ou contar com a atuação ativa de cada cliente. A empresa envia comunicados pelo celular, avisando sobre o período em que deve ocorrer a redução de consumo e seus clientes optam por desligar determinados aparelhos.  

A quantidade de energia economizada gera um número de pontos em um programa de recompensas, os “watts”, que viram créditos para serem consumidos na loja online da empresa possibilitando a troca por equipamentos da própria Ohm, do Google ou da Amazon. Estabelece-se aí um programa de fidelização de seus clientes. 

É interessante observar também, conforme a figura abaixo, que a Ohm se posiciona como peça fundamental para mitigar eventuais riscos de apagão, sensibilizando seus clientes a aderiram ao programa de redução de consumo nos horários de pico.  

Figura 8 – Ohm Connect se comunicando com seus clientes para garantir redução do consumo durante o período das 16hs às 17hs da tarde. 

Mas e aí? Como essa experiência internacional pode servir de inspiração para o Brasil? 

Para termos um programa de resposta da demanda que seja tenha sucesso no Brasil são necessários alguns aprimoramentos em nosso setor… 

O ponto fundamental é a infraestrutura de medição. Podemos aproveitar a crise para acelerar um programa de medição inteligente para pelo menos 50% do consumo em baixa tensão, iniciando pelos maiores clientes. As especificações técnicas dos medidores precisam ser adequadas aos padrões internacionais, de modo que os nossos padrões internos não inviabilizem a importação.  

A visão precisa ser ampla, passando pelo processo industrial, pelas barreiras técnicas e comerciais, e pela rápida implantação de sistemas de comunicação. Dando amplo acesso aos dados, empresas como as apresentadas anteriormente vão emergir rapidamente e o consumidor vai receber prêmio por fazer algo bom para ele e para todos. São benefícios individuais que promovem ganhos coletivos! 

E mais, seria um programa de consumo eficiente para sempre, não se limitando somente a reduzir os picos de consumo durante o período de crise hídrica. Ou seja, ao invés de focarmos na crise, vamos colocar nossa atenção em busca de soluções para que a crise promova ganhos permanentes de produtividade.  

Informações muito atuais sobre medição podem ser obtidas de alguns sites internacionais, tais como os apresentados na figura abaixo. 

Figura 9 – Algumas fontes de informações sobre Medição Inteligente. 

Para promover eficiência, além da Medição Inteligente, é primordial o estabelecimento de preços críveis, que reflitam com precisão a realidade operativa, ou seja, se o preço estiver baixo é porque as usinas mais baratas estão sendo utilizadas; se estiver alto, as usinas mais caras estão operando. Ou seja, precisa haver um forte acoplamento entre planejamento da operação, operação real e preços. Somente assim é possível induzir comportamentos eficientes e o uso racional da energia elétrica. 

Desde janeiro de 2021, entrou em operação a precificação horária no setor elétrico brasileiro. Agora para cada hora do dia é possível observar um valor diferente para o custo da energia. No blog da Volt Robotics há um artigo sobre o PLD Horário… 

Mas será que estão ocorrendo grandes oscilações ao longo do dia?  

Além do artigo, a Volt Robotics desenvolveu uma plataforma que analisa o preço horário e seus impactos sobre o perfil de consumo de cada cliente. Uma visão da ferramenta é apresentada na Figura 10. De forma geral, os preços variam pouco dentro de um mesmo dia, de modo que ao deslocar o consumo de energia do horário de pico para um período de preço baixo (lavar roupa de madrugada, tomar banho depois das 20 horas etc.), o benefício econômico do consumidor será pequeno.  

Logo, para a adesão aos programas de redução de consumo nos horários de pico ser alta, além dos ganhos pelas diferenças de preço, devem ser criados outros benefícios. Um deles é uma mesada para quem adere e efetivamente reduz o consumo nos horários indicados. Mas a criatividade apresenta soluções infinitas… Prêmios, sorteios, cupons de compra, devolução do valor pago, e por aí vai! 

Figura 10 – Plataforma da Volt Robotics para análise do preço horário. 

Essas são condições mínimas para que a figura do agregador de carga se torne uma realidade e, com isso, os programas de resposta da demanda sejam popularizados.  

Aqui no Brasil, no início de agosto, o Ministério de Minas e Energia abriu uma consulta pública, pelo prazo de 07 dias, para tratar da oferta de Redução Voluntária de Demanda de Energia Elétrica – RVD para atendimento ao Sistema Interligado Nacional – SIN (veja a minuta de Portaria). 

Os baixos volumes de água armazenada nos reservatórios das hidroelétricas e a falta de chuvas são os motivos apresentados pelo MME para justificar o programa de redução de demanda. 

Vamos ver um pouco mais desta proposta…  

A Consulta Pública do MME poderia ser mais ousada… 

De maneira resumida, o programa de redução de consumo nos horários de pico proposto pelo MME tem as seguintes características: 

  • Podem participar do mecanismo os consumidores livres e parcialmente livres, inclusive os modelados sob agentes varejistas e os agregadores4.  
  • As ofertas de redução de demanda a serem realizadas pelos consumidores devem ter volume mínimo de 30 MW médios, com duração de quatro e sete horas, preço em R$/MWh, dia da semana e identificação do submercado da oferta, com vigência de um a seis meses.  
  • Caberá ao Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS definir no dia anterior (D-1) as ofertas que serão consideradas e em qual horário do dia seguinte (D).  
  • O consumidor ofertante terá prazo limite para confirmar a execução da RVD, concretizando a oferta como bem-sucedida. Caso não confirme no prazo estipulado, a oferta será desconsiderada. 

A equipe da Volt Robotics estudou todos os documentos apresentados na presente consulta pública, pois entende que neste momento de estresse do cenário energético que o país atravessa, é vital estudar medidas para conter, de maneira voluntária, o consumo. Principalmente, o consumo nos horários de pico…  

As medidas propostas representam um avanço, pois trazem o consumo para a gestão da crise. Em 2013 e 2014 a crise custou mais de R$60bilhões porque nos limitamos a utilizar todas as usinas termoelétricas – inclusive as super caras e super poluentes – para manter o mínimo de água nos reservatórios. No blog da Volt Robotics você pode ler um artigo só sobre secas bilionárias…  

Todo avanço é sempre cercado de incertezas. É natural! Vejamos então algumas sugestões para reduzir as incertezas e elevar a efetividade do programa proposto pelo MME. 

Precisamos simplificar o processo e elevar o comprometimento dos consumidores…  

O processo de participação dos consumidores no mecanismo de redução do consumo é bem complexo, com ofertas sendo consolidadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico, aprovadas pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico etc.  

Apresenta-se uma grade horária para os próximos 6 meses, no dia anterior os consumidores aprovados para poderem participar no programa validam as ofertas, no dia avalia-se a performance etc. 

É uma mentalidade verticalizada e centralizada que reflete práticas de gestão ultrapassadas há pelo menos 20 anos por não serem efetivas. Se dermos liberdade aos consumidores e formos claros em nos comunicar, com regras simples, o resultado obtido vai surpreender a todos.  

Logo, propomos uma simplificação radical no processo, com Contrato de Adesão assinados digitalmente pelos consumidores e uma regra simples: diariamente o Operador Nacional do Sistema Elétrico indica os horários em que as reduções de consumo são necessárias para o dia seguinte; os consumidores fazem suas ofertas em termos de energia a ser reduzida em cada hora e o valor cobrado em um sistema na Internet. As ofertas mais atrativas economicamente são classificadas e pronto, a redução do dia seguinte está contratada! 

E se o consumidor falhar? Se ele falhar, há punições progressivas. Falhou uma vez: não pode participar no mecanismo por uma semana; falhou a segunda vez, não pode participar no mecanismo por duas semanas; falhou a terceira vez, paga multa… e assim por diante! 

Resumindo: vamos criar um leilão de redução de consumo, executado uma vez ao dia, pela internet. Vamos ouvir a voz dos consumidores, tal como ilustrado na figura abaixo… 

Figura 11 – Simplificação e liberdade podem elevar a efetividade. 

Aliás, a participação do consumo na gestão do Setor Elétrico é comum em vários países. No Reino Unido, por exemplo, há leilões de energia em que as ofertas são realizadas pelos consumidores, se comprometendo a reduzir o consumo. No Brasil, o Leilão de Capacidade que está sendo estruturado pelo MME também deveria prever esta possibilidade!  

Precisamos permitir a participação de consumidores menores…

Uma das características da proposta do MME que chama a atenção é o lance mínimo de 30MW. Este volume de energia faz com que somente grandes consumidores possam participar do mecanismo, deixando de fora muita gente que poderia contribuir. 

De acordo com a Figura 12, a demanda total dos consumidores pequenos, aqueles entre 30kW e 300kW, é da ordem de 15.000MW. É um valor muito maior do que a demanda total dos consumidores grandes, aqueles com mais de 2.000 kW de carga. Ou seja, permitir que consumidores pequenos participem das ofertas de redução de consumo pode resultar em uma redução muito mais efetiva do que se limitar aos clientes grandes. 

 
Figura 12 – Carga dos consumidores de acordo com os seus tamanhos. 

Mas a complexidade operacional não seria muito elevada, com um número muito grande de clientes? 

As tecnologias existentes e amplamente utilizadas para gestão de contratos, faturamentos, pagamentos, cobrança etc. permitem que o processo de adesão e a operacionalização diária sejam executados em minutos, quiçá segundos. Você já parou para pensar quantos clientes a Netflix fatura todo mês? E a Apple? E a Amazon? Se eles podem, nós podemos…

Precisamos aproveitar os canais de relacionamento existentes…  

Há algo intangível sobre a adesão a um programa de redução de consumo: a confiança! As pessoas que representam os consumidores e que vão levar para dentro de suas empresas a proposta de alterar a forma de trabalhar em função de promover um benefício sistêmico e um ganho individual, precisam estar certas e confiantes sobre o mecanismo.  

A simplificação da forma de operacionalizar as ofertas de redução de consumo é necessária, porém insuficiente. Para elevar as chances de sucesso do programa propõe-se que o interlocutor dos consumidores seja alguém que eles já conheçam e já confiam.  

Conforme pode ser observador na Figura 13, todos os consumidores – cativos, livres ou varejistas – possuem relacionamento direto com suas distribuidoras. Os livres possuem também relacionamento com a CCEE e com os fornecedores de energia, os menores com seus comercializadores varejistas, e assim por diante. 

Apenas alguns poucos consumidores possuem relacionamento com o Operador Nacional do Sistema Elétrico, mas é ele quem vai – de acordo com a proposta do MME – realizar a operacionalização do programa de Redução Voluntária de Demanda.  

Fica a sugestão: será que não seria interessante que a relação com os consumidores fosse operacionalizada por alguém que eles já conheçam e tenham relacionamento estabelecido? 

Figura 13 – Relacionamentos existentes no Setor Elétrico. 

Precisamos dar liberdade aos consumidores…  

Imagina o que ocorreria se saíssemos por aí perguntando às pessoas: 

  • Você assinaria um contrato se comprometendo a comprar produtos mensalmente, por vários anos, pagando em dólar, sem realizar nenhuma proteção contra as oscilações da moeda? 
  • Você compraria um produto de um fornecedor que destrói o meio ambiente, contamina a água do subsolo e promove a deterioração da saúde dos seus funcionários? 

É fácil imaginar que a maioria das pessoas responderiam não às duas perguntas acima, mas o que elas não sabem é que mensalmente, ao pagarem suas contas de luz, pagam contratos em dólar pela energia de Itaipu, sem proteção cambial, e pagam usinas termoelétricas altamente poluentes.  

Ou seja, se tivessem liberdade de escolha, seriam mais eficientes econômica e ambientalmente.  

Por que não aproveitar o momento atual para dar mais liberdade aos consumidores? Ao invés de pagar para não consumirem, podemos estabelecer um acordo: se o consumidor reduzir o seu consumo em 10% nos próximos seis meses, ganha o direito de migrar para o Mercado Livre, independentemente de nível de tensão ou de quanta energia consome. 

Pesquisas recentes, divulgadas no início de agosto pela ABRACEEL, mostram que 81% dos consumidores gostariam de poder escolher seus fornecedores de energia. Vamos atender ao anseio das pessoas e ainda ajudar na solução da crise hídrica. 

Figura 14 – Liberdade para quem colaborar com o enfrentamento da crise hídrica. 

Precisamos mitigar os impactos sobre a retomada econômica… 

Em 2020, ano do início da pandemia, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil se reduziu 4,1%. Este ano, as previsões atuais dos especialistas – publicadas pelo Banco Central – indicam um crescimento de 5,3%. Ou seja, o país está superando a crise…  

Ao promover a redução do consumo para grandes clientes, com mais de 30MW, estamos promovendo a redução do consumo majoritariamente da indústria. Seria bom deixarmos a indústria trabalhar e promovermos as reduções em consumidores menores, incluindo as residências. 

E mais… se o problema é consumo nos horários de pico e não o consumo de forma geral, devemos encontrar formas de reduzir o consumo somente nos horários de pico. Um exemplo, apresentado na Figura 15 pelo Volt, é fomentar o uso das baterias dos laptops nos períodos de pico. O horário das 14h às 17h pode ser ajustado em função das necessidades sistêmicas…  

Figura 15 – Criatividade para reduzir consumo nos horários de pico. 

Para saber quem respondeu ou não ao incentivo pode-se acelerar a instalação de medidores inteligentes no Brasil, ou ainda promover medidas de instalação descentralizadas de sistemas de monitoramento de energia. São medidores mais simples, que as pessoas podem comprar no supermercado em lugares como os Estados Unidos e o Canadá, mas que ainda são raros aqui. Cada residência que aderisse ao programa teria seu consumo monitorado por uma empresa independente que atestaria a redução do consumo no horário de pico, compensando o consumidor com reconhecimento social, pagamento em dinheiro, créditos em conta corrente, ou qualquer coisa parecida. 

O mais importante é criarmos soluções que se perpetuem, de modo a aproveitarmos a crise para termos ganhos de produtividade permanentes.

Precisamos acelerar a modernização…  

A participação dos consumidores na redução nos picos de energia deve ser iniciada e acelerada com a atual crise energética, com medidas que produzam ganhos de produtividade permanentes. 

A modernização do Setor Elétrico Brasileiro é urgente e depende de uma concentração de esforços para promover mudanças em vários aspectos… 

Medidores Inteligentes 

A instalação de medidores inteligentes nos clientes de baixa tensão deve ser tratada como uma emergência. Vamos avaliar como implantar os medidores, como superar barreiras existentes como os altos tributos para importação, a insuficiência da produção nacional, as dificuldades de cobrar pelo medidor via tarifa, a resposta ao que fazer com os medidores atuais que ainda funcionam, e assim por diante. As dificuldades precisam ser superadas e custeadas com reduções de ineficiências em outras pontas, com um amplo plano de guerra. É o que a situação exige! 

Separação entre os serviços de rede e o fornecimento de energia 

Toda vez que se fala em reduzir consumo para os clientes de baixa tensão, as distribuidoras entram em pânico e com razão: cerca de 60% de todo o investimento realizado nas redes de distribuição são recuperados de forma proporcional ao consumo de baixa tensão. Se há incentivos à redução do consumo, há naturalmente uma redução da remuneração sobre os investimentos realizados. Como superar este impasse? 

Uma das formas é rever com urgência a estrutura tarifária do setor elétrico brasileiro, vigente desde 1970. As distribuidoras hoje possuem dois negócios: constroem a rede elétrica que conecta os consumidores, e comercializam energia de forma regulada pela ANEEL. A separação das duas atividades é urgente, e os modelos de negócio precisam ser revistos. 

Modernização das tarifas 

É necessário haver uma cobrança pelo consumo no horário de pico e outra pelo consumo acumulado, e a remuneração das distribuidoras tem que ser vinculada à qualidade e não ao volume de investimentos. Quanto menos a empresa gastar para prestar um serviço de qualidade, melhor para ela e melhor para os consumidores! 

Liberdade aos Consumidores 

Adicionalmente, é preciso dar liberdade aos consumidores e permitir que mesmo os menorzinhos possam migrar ao Mercado Livre. Vários dos sobrecustos que temos desapareceriam com o direito de escolha dos consumidores e haveria agentes agregadores para incentivar o consumo nos horários corretos, tal como vimos na nossa viagem pelo mundo. Empresas como as vistas no Reino Unido, Estados Unidos e França seriam abundantes por aqui! 

Sistemas de Armazenamento 

Finamente, é preciso acelerar a entrada dos sistemas de armazenamento no Setor Elétrico Brasileiro. Se o nosso problema é de consumo no horário de pico, ele pode ser resolvido carregando-se uma bateria durante a madrugada e descarregando-a durante o horário de pico. O consumo total de energia seria o mesmo, mas as redes elétricas e as usinas não ficariam sobrecarregadas por algumas horas do dia.  

Adicionalmente, as baterias associadas a usinas solares e eólicas podem ser carregadas nos picos de produção dessas usinas e podem injetar energia na rede nos momentos de maior consumo. Seria mais uma forma de reduzir o estresse que o sistema sofre no fim da tarde. 

A Mudança deve vir das Pessoas 

Obviamente, essas sugestões são limitadas e precisam ser detalhadas. Muitas outras ideias podem surgir… O que importa neste momento é ouvir as pessoas, entender suas necessidades e possibilidades, e extrair o conhecimento de todos que querem contribuir para a construção de soluções perenes, com ganhos de produtividade permanentes. 

Enfim, qual é a pergunta para a Resposta da Demanda? 

Na opinião da Volt Robotics, a grande pergunta que deve ser feita é…  

Como aproveitar a crise hídrica atual para realizar transformações  
que promovam ganhos de produtividade de forma permanente? 

Sejamos ousados e pensemos além da crise… Temos que sair dela melhor do que entramos! 

É muito triste ver as soluções surgirem de forma muito semelhante às do racionamento de 2001. O mundo evoluiu demais para tratarmos o problema do mesmo modo. Se não modernizamos a nossa relação com a energia elétrica de forma planejada e propositiva, pelo menos aproveitemos a crise hídrica para nos impulsionar, aproveitando o que já existe em outras geografias há pelo menos uma ou duas décadas…  

Quer entender um pouco mais como usar a energia elétrica de forma mais eficiente? Fale com a Volt Robotics! 

contato@voltrobotics.com.br 

www.voltrobotics.com.br 

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